Novas perspectivas para educação

Professor: um baú de historinhas[1]
Marcos Fernando do Nascimento[2]

Durante muito tempo nossa concepção de homem foi marcada por diversas influencias teóricas que se entrelaçam entre a formação do Estado e o existir humano. Observa-se que na antiguidade grega, o homem virtuoso era aquele que desenvolvia aptidões naturais e era fiel a elas; e que o destino da cidade – polis, estaria ligada a sua felicidade, ou seja, para que a polis tivesse sucesso era necessário que o homem fosse feliz, seria então, impossível ter uma cidade prospera se o homem fosse infeliz.
Noutra concepção, a Cristã Medieval, o homem viveu em conflito entre as ideias de bom, mau, liberdade e razão, pois sua essência e existência só seriam possíveis numa perspectiva divina e sua razão deveria devotar-se a Deus. Já na concepção moderna o homem é condenado a cada instante a reinventar-se e desprendeu-se do pensamento controlador da Igreja Católica indo de encontro à criticidade, a capacidade de trabalho, obviamente influenciado pela hegemonia burguesa e capitalista que se instaurou no final do século XVIII.
Com essa viagem filosófica percebemos que em meio à formação humana e a formação do Estado, esse aparato ideológico que, em contrato social com o homem, que o estabeleceu, torna-se responsável pela organização da vida em sociedade e tem em seu bojo uma serie de princípios norteadores, dentre os quais, devem resguardar a ordem e o bem da coletividade. Não obstante a isso, a escola e seus atores nasceram e foram institucionalizados desde a antiguidade clássica para formar e tornar esse Homem o sujeito histórico do processo de sua época.
Dentre estes atores do processo escolar, está o Professor que em diversos momentos também passou pelas mesmas mudanças, e assumiu diferente papeis na instrução, formação e consolidação do homem social. Esse sujeito, hoje é considerado o responsável pelo homem que se quer formar daqui em diante e obviamente, influenciou e influenciará na sociedade que se teve, tem e terá.
Na segunda metade desse século, de acordo com observações de Nóvoa (1995) os professores vivenciaram um período de indefinição profissional.

Fixa-se neste período uma imagem intermédia dos professores, que são vistos como indivíduos entre várias situações: não são burgueses, mas também não são povo; não devem ser intelectuais, mas têm de possuir um bom acervo de conhecimentos; não são notáveis locais, mas têm influência
importante nas comunidades; devem manter relações com todos os grupos sociais, mas sem privilegiar nenhum deles; não podem ter uma vida miserável, mas devem evitar toda ostentação; não exercem seu trabalho com independência, mas é útil que usufruam de alguma autonomia; etc. (NÓVOA, 1995, p. 18)

No início do século XX, a profissão docente consolidou-se com a adesão coletiva dos professores a um conjunto de normas e de valores que acrescentam à unidade extrínseca do corpo docente, imposta pelo Estado, uma unidade intrínseca, constituída com base em interesses comuns e na consolidação de um espírito de corpo. (NÓVOA, 1995).
Atualmente se discute que o professor deve ser o profissional polivalente da educação que sabe ouvir, comunicar-se, despertar a curiosidade, coordenar, motivar, solucionar conflitos, dominar a linguagem informacional e ser bem articulado com as inúmeras ferramentas de comunicação e as multimídias. Nessa discussão misturam-se a elas, a neutralidade, a ignorância e o fato deste profissional nem sempre conseguir contextualizar os saberes com as ferramentas que lhe são postas, assim como também, ainda não estar pronto conceitual, intelectual e operacionalmente a usar novas metodologias pedagógicas.
As competências profissionais de um professor podem ser desenvolvidas. Para Perrenoud (2000):

Essa competência é mobilizada por inúmeras competências mais globais de gestão de classe (por exemplo, saber prever e prevenir a agitação) ou de animação de uma atividade didática (por exemplo, saber determinar e envolver os alunos distraídos ou perdidos). (PERRENOUD, 2000, p. 16)

É fato que a separação das ciências em disciplinas hiperespecializadas impede tanto a percepção do global, que ela fragmenta em parcelas, quanto do essencial que ela dissolve.
Assim, Nóvoa (1995, p. 108) descreve que: “hoje em dia, o ensino de qualidade é mais fruto do voluntarismo dos professores do que conseqüência natural das condições de trabalho adequadas às dificuldades reais e às múltiplas tarefas educativas”.
Na mesma linha de pensamentos, leciona que:

Estamos perante uma realidade nova, sem paralelo na história e o que os pais e a sociedade não conseguem cobram dos professores. Para além do conhecimento e da cultura, espera- se que ajudem a restaurar dos valores, a impor aos jovens as regras da vida social, a combater a violência, a evitar as drogas, a resolver as questões de sexualidade, etc. (NÓVOA, 2003, p. 14).


Para tanto, o profissional da educação que opera em sala de aula deve estar pronto e aberto a ser comparado com um “baú de historinhas” que não despreza a pedagogia tradicional nem se limita a pedagogia Freireana e percebe que o mundo não é um processo acabado, estanque e nem sobrepõe seus valores aos valores e à moral alheia, pelo contrario, exercita a virtude do respeito, da paciência, da cordialidade, da temperança e da livre manifestação do pensamento. Jean Piaget, Lev Vygotsky e outros estudiosos lecionaram que o importante é ser um mediador na construção do conhecimento e isso requer uma postura ativa de reflexão, autoavaliação e de estudos constantes.
O professor hoje, segundo Perrenoud (2000), precisa:

[...] despender energia e tempo e dispor das competências profissionais necessárias para imaginar e criar outros tipos de situações de aprendizagem, que as didáticas contemporâneas encaram como situações amplas, abertas, carregadas de sentido e de regulação, as quais requerem um método de pesquisa, de identificação e de resolução de problemas. (PERRENOUD, 2000, p. 25)

Nessa perspectiva vislumbra-se que há uma inversão natural do processo humano, ou seja, a escola está pecando na sua dinamicidade, pois, se durante séculos ela foi à responsável e a maior instituição que interveio na formação social, hoje, a evolução e atualidade do mundo é que exigem da educação professores capazes de acompanhar e transformar a cultura geral vigente.
Assim, são características do professor contemporâneo o planejamento, a organização pessoal, o compromisso com sua tarefa pedagógica, avaliação constante e a valorização do trabalho em equipe com trocas de experiências com colegas da profissão sempre. Os “achismos” os paradigmas e as mitificações são meras desculpas para se acovardar da decisão de ir buscar o conhecimento e acompanhar a modernidade, ou seja, existir e co-existir de fato.
Deve, portanto partir de cada educador essa busca incessante pelo novo, pelas ferramentas, pelo conhecimento substancial de que o mundo lhe evoca e tornar isso uma arma de construção e significância em sua vida e na vida de seus alunos, ser um verdadeiro “baú de historinhas” para contar flexível e inacabado.

Referencias:
ARANHA, Maria Lucia Arruda. Filosofando. São Paulo: Moderna, 1986.
NOVOA, A. (Org.) Profissão professor. Portugal: Porto, 2. ed., 1995.
PERRENOUD, F. Dez novas competências para ensinar. Tradução Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.




[1] Texto apresentado ao Curso de Especialização em Educação do Campo da Universidade Aberta do Brasil – UAB/Pólo: Caxias-MA
[2] Professor de Filosofia e Sociologia, Especialista em Teoria Social e Aluno do 5° Bloco de Direito da Fculdade do Vale do Itapecuru – FAI em Caxias-MA.

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