As funções do currículo nos desafios da educação da contemporaneidade


Historicamente não há um marco regulatório sobre a origem e o nascimento do currículo como ciência ou teoria, mas poderíamos arriscar dizer que há um consenso que ele nasce junto com o trabalho, ou melhor dizendo, quando o homem descobriu que a partir da sua capacidade realizar trabalho, ele Teleologicamente, percebe que precisa de métodos, organização, procedimentos e disciplinas para alcançar objetivos, àquela época primitiva que satisfizessem seus desejos biossociais, então temos ai procedimentos humanos que nortearam a sua formação enquanto homem que educa-se e forma-se. 

No período helenístico, se ensinavam expedições militares, táticas de guerrilhas e valorizava-se a educação física, o que não deixava de ser um pensamento pedagógico que marcava aquela época. Na idade média o Trivium e o Quadrivium já incluíam estudos como a gramática, aritmética e a música nas disciplinas principais das Universidades do Século X ao XIII. A didática Magna de Comenius pode ser a maior referencia do que se pode falar em estudo, ou discurso ou até perspectiva do currículo como ciência, mas o fato é que tal assertiva não se pode precisar. Assim, toda teoria pedagógica é também uma teoria do currículo. 

No Brasil a marca de um currículo confessional advindo da Cia de Jesus perdurou até os anos do Império, sendo substituído pelo pensamento curricular europeu do ensino mercantilista que traduzia a concepção de um mundo colonizador e a manutenção da sociedade de acordo com esses interesses, distanciando-se da realidade vivenciada na colônia. Dos anos 40 aos 60 na primeira tentativa de uma República, permanece o enfoque organizacional fundante na racionalização dos resultados educacionais e nos objetivos de se realizar a educação para um fim, fruto da influência Norte Americana e do processo industrial latente que necessitava de mão de obra escolarizada, eis que nasce, ou marca referencialmente as teorias tradicionais ou não críticas do currículo. Essas “teorias tradicionais” marcam os estudos sobre o currículo como campo do saber de forma cientifica, a pesar de anteriormente existirem “especulações” menções e descrições sobre aspectos curriculares dentro das teorias educacionais denunciadas pela filosofia, sociologia e pela própria história da educação. As teorias tradicionais do currículo, refletem o contexto da modernização industrial vivenciada no século XIX onde o estabelecimento de uma educação com objetivos precisos, a escolarização em níveis cada vez mais alto, centrando as atividades educacionais em modelos técnicos de organização e planejamento. 

O sistema de educação, para essa teoria, teria de ser preciso e eficiente, semelhante a uma empresa, a começar pela definição dos seus objetivos que deveriam refletir sobre que habilidades necessárias o educando deveria desenvolver para exercer na sua profissão na vida adulta. Essas teorias ou esse pensamento, perduraram por todo o século XIX e XX, como não dizer comum a velha pergunta que nos fazem quando somos criança: – O que você quer ser quando crescer? Reluz muito bem as exigências impostas por essa teoria.

As décadas de 80 e 90 inauguram uma fase mais sociológica e contracionista do currículo com ela vem as teorias críticas e Pós-críticas. A concepção crítica salienta o enfoque questionador e de transformação da sociedade a partir da crítica ao currículo tradicional, pondo em xeque nesse contexto, o papel da escola reprodutora, dual e subserviente, assim como a práxis pedagógica e a organização conteudista. 

Na ótica do discurso critico do currículo ele deve ser visto como produto de uma construção social circundado e envolvido pelas relações de poder, por contextos históricos e sociais, questões políticas e econômicas, trazendo um novel relação escola e sociedade, pois propõe uma reflexão que relacionasse questões culturais, sociais como as disputas de poder nos espaços pedagógicos, políticas e econômicas também. As concepções Pós-críticas ponderam questões que valorizam os micro currículos ou micro contextos educacionais nos mais variados locais e espaços geográficos do planeta, (aqui emergem as temáticas de gênero, raça, etnia, corpo, sexualidade, religião, cultura e multiculturalismo) além de esclarecer a relação de poder versus conhecimento, ou melhor, a identidade dos sujeitos passa a materializa-se nas práticas do dia-a-dia. Ambas estão preocupadas com o binômio poder x conhecimento, já que dos conceitos teóricos é que se pode traduzir a nossa realidade. Sacristán, (2000) chama atenção que as teorias do currículo refletem o resultado de mudanças que ocorrem pela dinâmica da história e evolução do pensamento humano, nos contextos social, econômico, cultural e de identidade e que logicamente vão inferir na escola. 

Na contemporaneidade uma questão é urgente: O que ensinar? Nunca foi tão difícil responder tal questão, haja vista que o processo de transposição didática, sempre atende processos políticos vivenciados, até hoje, refletem a ditadura da práxis deixando de fora do currículo temas, problemáticas e questões que precisam ocupar espaços na formação integral dos sujeitos. O viés Pós-crítico, nos convida a promover essa resistência, o currículo como território em disputa, é inadmissível aceitar um currículo fechado que promova aspectos excludentes, que não ensine temas e traga para dentro da escola assuntos sociais urgentes ao debate, sejam de âmbito nacional ou local. 

A função do currículo é incluir, é ser democráticos, inclusivo, integrado e emancipatório. Democrático porque precisa ter um caráter de mediação entre o que a comunidade escolar quer e o que ela precisa conhecer como conhecimentos gerais para atingir a emancipação do conhecimento. Inclusivo, porque não pode furtar-se de fugir as diversas variantes dos desafios temáticos que são postos a escola. Integrado porque não pode separar a prática da teoria e muito menos a cultura da ciência e tecnologia.

Referências

SACRISTÁN, José Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 3ª Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

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